quarta-feira, 10 de abril de 2024

O Silêncio, Em Silêncio, No Silêncio

 

O Silêncio, ou a ausência de som, ausência de todo e qualquer ruído onde tudo o que resta é um vazio sonoro que pode ser tanto opressor quanto libertador, o silêncio, que impede que se ouça o choro de uma criança, a risada de casais enamorados e cheios de amor, que faz com que sua música preferida não esteja sendo executada, que a bronca de sua mãe se perca em memórias, que o barulho extremo de carros indo e vindo, de aviões pousando e tantas outras referências sonoras sejam apenas vagas lembrança, o silêncio que a tudo deixa mudo e que precisa que assim permaneça pois o menor barulho o inválida, é esse silêncio que sempre me assustou mas de uns tempos para cá me fascina. 

O silêncio tem a propriedade de aguçar outros sentidos e esses sentidos podem aguçar o raciocínio, pois quando o silêncio se instala a mente ao meu ver se acalma e os processos dentro dela se tornam mais claros. é quase como se eu pudesse ouvir minha mente funcionar quando o silêncio ocorre. O Silêncio é raro, ainda mais neste mundo louco em que vivemos onde carros, música, gritos, falas, tudo em enfim vem tendo seus decibéis cada vez mais amplificados. O Silêncio, é desejado, porém pouco alcançado.

Em silêncio. Estar em silêncio quando tudo mais a minha volta é som e fúria é algo que venho tentando. Falar menos e calar mais. Emitir menos ruídos seja de que espécie eles forem. Andar de forma mais leve, ouvir música com volume menor, respirar de forma mais compassada, me colocar em silêncio para ouvir o que as pessoas, o mundo e principalmente a voz de Deus tem a me dizer. Em uma sociedade cada vez mais barulhenta, a voz Dele se perde em meio a tantos sons desnecessários, em meio a tantos atritos sonoros que desencadeiam verdadeiras catarses sonoras onde só restam sons absolutamente desfocados e desnecessários que irritam e enlouquecem mentes mais sensíveis. Em silêncio eu tenho buscado estar, seja calando, seja buscando espaços silenciosos. é difícil, mas...

No silêncio. é no silêncio que eu me conecto com o que realmente me importa, o que realmente me faz bem. No silêncio eu posso tentar meditar, entender quem eu sou e como sou e porque sou.  No silêncio posso tentar me conectar com Ele e sem máscaras ou segredos me derramar. No silêncio, onde tudo é paz e muitas vezes vem acompanhado da escuridão, eu posso verdadeiramente ver quem sou e quem eu deveria ser. No silêncio, e em silêncio o silêncio faz todo sentido como ferramenta de aprendizado. 

Ainda que eu tenha aprendido tão pouco em 51 anos de idade, talvez ainda haja tempo para silenciar e silenciando entender finalmente, qual o meu papel no mundo, seja o meu universo particular, seja o mundo no qual estou inserido e ainda que inserido me sinta excluído.  Quem sbe ainda dá.

É isso.

Ouvindo: Nada

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Eu Contra a Felicidade

 

Não é que eu tenha algo contra a felicidade. De verdade, não tenho nada a dizer que a desabone. É um sentimento legal, bacana de se sentir, eleva a alma, creio até que faz bem para o físico.  Eu vejo pessoas felizes por todos os lugares. Elas estão em anúncios de T.V  que tentam me vender geladeiras, fogões, colchoes Emma e mais uma infinidade de coisas que eu não preciso. Eu vejo também pessoas felizes no Instagram.

Chega a ser surreal o fato de que ali, no Instagram, ninguém é infeliz. Todos postam suas melhores fotos que emanam os melhores sentimentos, que exalam felicidade mesmo que não seja possível sentir o cheiro de nada (ainda) pelo celular. Ali, as pessoas riem de tudo, viajam, colocam suas melhores roupas, distribuem seus melhores abraços em fotos lotadas de filtros que as deixam muito mais lindas do que elas mesmo poderiam imaginar. O Instagram esta para a felicidade como a Cocaína está para  euforia.

Eu, por meu turno, não sei ser feliz, Seja no Instagram onde meus stories não tem fotos minhas para não declarar minha cara de tacho seja na vida cotidiana, a felicidade para mim é uma luta que não consigo vencer, uma realidade que não sei viver, uma dádiva que nunca é dispensada a mim. Não que eu seja uma pessoa depressiva, um infeliz contumaz, longe disso. Eu sou apenas aquele que fica no limbo entre a alegria e a tristeza, um lugar onde os sorriso são amarelos e as comemorações quando existem, são contidas, recatadas, parecem ter vergonha de acontecer.

Não, não tem haver com merecimento ou falta dele. Eu me acho merecedor da felicidade, mas ela não se achega a mim. E não se achega porque eu bloqueio exatamente pelo medo e a certeza de que ela é um sentimento que não me pertence e assim não vai durar quando me alcançar. Quando ela resolve vir a mim, ela não é uma lufada de ar fresco. É mais uma brisa leve e rápida que não embriaga, não arrepia, apenas passa e com um frêmito rápido vai. Quando dou por mim, ela já me deixou. Melhor então, não tê-la.

Por qual motivo eu iria ansiar por uma sensação tão efêmera? Uma sensação que não me satisfaz, apenas inicia um processo que não vai se encerrar? A felicidade não é para mim. Eu vejo pessoas em programas de televisão gritando porque algo bom aconteceu a elas ou algo que elas acham que é bom e me pergunto de onde vem essa energia toda. Eu vou a igreja e vejo as pessoas cantando de forma derramada, com gestos e danças, com vozes elevadas e me sinto deslocado, me sinto um ET que não consigo sentir como os outros. Eu amo ouvir as canções, amo ouvir a afinação (quando há) das vozes, mas me sentir feliz? Não, não é para mim.

A principio, parece que sou contra a felicidade. Não, não sou. Queria ser amigo dela. Não melhor amigo, mas gostaria de merecer seus favores ao menos de vez em quando. Não sei lidar com a felicidade, não sei conviver com ela e creio que seja por este motivo que ela se desvia de mim. De que adianta ela se apresentar a mim se não saberei desfrutá-la? A felicidade não é para todos e definitivamente não é para mim.

É isso.

Ouvindo: The Carpenters

quarta-feira, 27 de março de 2024

Frágil Humano


Não existem gargalhadas em "O Astronauta"  Não existem sequer sorrisos. A interpretação de Adam Sandler é crua, baseada em uma tristeza latente que o acompanha desde a primeira tomada. Uma tristeza que é quase palpável, quase visível a olho nu. Jakub, o personagem de Sandler é um  Astronauta que aparenta não querer ser mais nada, aparenta na verdade nem querer estar vivo.

Ele se mete em uma jornada de 6 meses aos confins do espaço e isso não traz autoconhecimento, reflexões filosóficas ou qualquer outra coisa que possa ser tomada como positiva. Ele tão somente se sente-se triste, com uma saudade lancinante de sua mulher que paradoxalmente quando em Terra ele fazia de tudo para estar longe. Jakub sofre e pior, sofre calado por não ter com quem falar dado que está só na imensidão do espaço. 

Quando Jakub descobre para seu espanto que não está só, ele se vê acompanhado de  uma espécie de Aranha gigante de causar arrepios em qualquer um. A suposta docilidade da Aranha causa ainda mais arrepios, pois um ser com sua aparência não aparenta ser dócil e sim pronto para o ataque. Porém ao falar a aranha define não apenas a Jakub, mas a todos nós. Ela o chama de "frágil humano" . Após esta frase fica claro que não só Jakub, mas também eu e você que me lê, que todos nós afinal de contas somos tão somente frágeis humanos, por mais que não aceitemos tal condição.

Somos exploradores. Mandamos o homem a Lua e hoje sabemos que existe mais água na Lua armazenada que nós possamos consumir em 1 ou 2 gerações. Logo, estaremos pousando em Marte para descobrir com nossos olhos os seus segredos e mistérios. Depois de Marte, o que nos aguarda? As Luas de Saturno, Jupiter e Netuno? Vamos mandar objetos observar Europa e Io? Sim, vamos. Produzimos aviões que voam mais rápido do que jamais sonhamos, nossos carros correm alucinadamente. Construímos prédios cada vez mais altos, mas ainda sim somos frágeis, frágeis humanos.

Ad Astra excelente filme com Brad Pitt trabalhou a culpa e a solidão de forma magistral e nos mostrou que podemos fazer praticamente o que quisermos graças ao nosso intelecto mas ainda sim não conseguimos dominar nossos sentimentos e a tristeza, a solidão, a falta de empatia, tudo isso nos domina em um piscar de olhos e ai tudo o que construímos e realizamos se torna irrelevante. 

Jakub tem um encontro insólito em pleno espaço sideral com uma aranha que para alguns é sua consciência mas que para mim e para outro tanto de pessoas, é literal. Esse encontro não o tira da tristeza mas o faz refletir sobre sua vida e suas atitudes em um momento crucial não apenas para ele mas para toda Terra que acompanha sua jornada que esqueci de mencionar, tem como objetivo salvar a humanidade da destruição.

Mesmo tendo que salvar a humanidade, Jakub deixa claro o quão secundário isso é para ele. Resolver suas próprias questões, sentir-se menos mal do que esta se sentindo e até mesmo salvar a aranha de seu destino é mais importante do que a humanidade que dele aparentemente depende. São tantas e tantas camadas dentro de seu silêncio que se torna impossível descrever em um texto. é necessário assistir "O Astronauta" e de preferência mais de uma vez para então perceber através das nuances na interpretação de Sandler, tudo o que este magnífico filme tem a oferecer.

Mas uma coisa fica clara: Somos todos frágeis, frágeis humanos, inseguros e com medo de nosso futuro pois não sabemos o que nos aguarda na próxima esquina. Somos frágeis embora arrogantes, medrosos arrotando valentia. Somos todos dependentes seja de um Deus, de outra pessoa, de uma crença pessoal, tanto faz. Somos todos dependentes e nessa dependência ou no afã de dela se livrar, tentamos mostrar independência e mostramos apenas o quanto podemos ser patéticos, seres patéticos ao ponto de levar creme de amendoim para o espaço. Somos frágeis, frágeis humanos.

É isso.

Ouvindo: Love Coma

sábado, 2 de março de 2024

Prendam Netanyahu

 

Não sei a quem se deve pedir a prisão de Netanyahu, mas ele tem que acontecer e tem que acontecer o quanto antes. Israel não esta se defendendo esta atacando e em sua sanha imparável por justiça esta assassinando de forma indiscriminada quem estiver em sua frente, ou seja, qualquer um que ouse estar na faixa  de Gaza, seja Palestino ou não. Israel a muito tempo deixou de querer justiça. Israel quer vingança.

Já não se trata mais de exterminar o Hamas, isso esta claro a muito tempo. Trata-se de exterminar todo o povo Palestino, povo que na verdade nunca existiu com a dignidade devida não apenas aos olhos de Israel, mas do mundo. O planeta pouco se importa com o que se passa naquele pedaço de deserto onde as pessoas se amontoam e tentam viver da melhor forma possível espremidas entre loucos terroristas e loucos Israelitas que não querem paz, querem extermínio. Me pergunto o que aconteceria se um dia esse genocídio do povo Palestino for levado a cabo o que quererão os Judeus. Qual será seu próximo alvo?

Acusam nosso Presidente cachaceiro e destrambelhado de ter falado demais. De fato, Lula poderia ter guardado suas palavras ou usados palavras diferentes, mas a essência do que disse é dolorosamente real. Israel esta colocando em curso um genocídio esquecendo-se da própria dor de seu povo quando eles foram alvo de tamanha desdita.

Os famélicos em uma fila que buscavam comida, foram atacados de forma absolutamente torpe e não importa o que diga a propaganda de guerra de Netanyahu, pois este fato é apenas mais um a deixar claro que Israel sob sua insana liderança não busca uma solução pacífica e sim derramamento de sangue em modo infinito. E não, não se trata de demonizar Israel e suavizar os loucos psicopatas do do Hamas, mas de achar que o que se deveria buscar é um meio termo que extermine terroristas que querem exterminar o estado de Israel sem contudo exterminar o povo que não coaduna com essa visão insana mas deu azar de habitar exatamente onde os lunáticos também habitam.

Não existem respostas fácil para este conflito, não existem saídas sinalizadas. Mas grandes homens se provam exatamente ao gerir grandes crises e Netanyahu não esta a altura do cargo que ocupa pois toma sempre as decisões mais fáceis que passam pelo caminho da morte e da dor. perde a chance de provar-se estadista para mostrar-se apenas um assassino tão cruel como o líder ou líderes, do Hamas.  Em uma guerra onde a maioria imensa dos mortos são inocentes de ambos os lados, Netanyahu deixa de ser o que poderia e deveria de fato ser, um líder sensato e preocupado com a paz definitiva para ser mais um senhor da guerra isolando cada vez mais Israel do resto do mundo civilizado. Talvez Bolsonaro goste dele assim como Trump. Mais alguém?

É isso.

Ouvindo: Joice e Marcel


terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Quando a Chuva Cai

 

Quando a chuva cai, não torrencialmente, mas de forma suave, aquela chuva boa de dormir, boa de observar da sacada do 12 andar, aquela chuva que rega as plantas, que molha o chão as vezes tão árido que parece sentir saudades da água que vem dela vem, aquela chuva que mesmo chovendo lá fora, parece encharcar o coração e alma com a esperança de que dessa vez eles vão florescer, que vão se embelezar para seguir na vida de forma menos dura. Quando essa chuva cai, eu sinto paz.

Essa chuva me desliga de um mundo cada vez mais sem rumo onde para alguns Deus "vai evitar o Apocalipse" que para outros começara entre 5 e 10 anos e que para outros ainda, pode ser macetado por uma vocalista de trio elétrico. Essa chuva me aparta dessas e outras questões porque eu consigo observa-la e entender ainda que de forma confusa, que ela, a chuva tem sua finalidade que é trazer equilíbrio para o planeta e ainda sim, pode ser para mim um simples grão de areia na vastidão do universo alívio em meio a dores, enviado por aquele que o universo criou. A chuva, essa chuva que eu gosto de ver, pode então, por um breve momento, ter sido enviada apenas para mim, apenas para meu deleite, apenas para que eu não enlouqueça ante um mundo que me apresenta questões que cada vez mais eu não sei responder e situações que eu cada vez não consigo reagir a altura.

Hoje, por um breve momento, ela veio. Não durou 5 minutos. Acho que foi uma pancada daquelas que acontecem isoladas, como se só aquele local precisasse de sua presença. Não sei se o local precisava, mas eu sim. E a medida que ela caia e me acalma o coração eu percebi que muitas vezes fujo de questões que não quero lidar, principalmente quando se tratam de questões de morte. Uma amiga querida morreu. Dias atrás ela se foi. 

Nem tivemos a chance de nos despedir. Soube por terceiros e quando senti o travo amargo da dor em minha boca, logo me refugiei no "isso não me importa, vida que segue". Mas sim isso me importa, e me importa muito porque erámos amigos. Ainda que houvesse uma enorme distância física, as redes (anti) sociais nos aproximavam em conversas quase diárias e nos últimos tempos bem sofridas, porém cheias de esperança de dias melhores e recomeços. Quando ouvi a noticia, quis chorar, chorar de soluçar mas contive o choro, como sempre faço. Contive minhas emoções porque afinal de contas me emocionar não é algo que me faça bem.

Eu simplesmente não acreditei e esperei que ela me chamasse no Instagram como sempre fazia nos horários mais absurdos e improváveis para me falar de suas feridas e tristezas mas também de seus planos para recomeçar e ser alguém melhor do que era. Não deu tempo mas deu tempo de eu dizer para ela que ela já era uma pessoa excepcional. Ao menos, isso, deu tempo.

Nunca tive muitos amigos, eu não sei ter amigos. Não sei nem ter colegas. As pessoas, a grande maioria, a esmagadora maioria delas me causam apenas um terrível e monótono enfado e ela sempre foi a amiga com quem podia rir, com quem podia ser eu mesmo e ela comigo. Não tive tempo de elogiar uma última vez suas galochas que ela usava quando adolescente e viraram botas de jovem senhora depois de adulta.

Não tive tempo de muita coisa mas tive tempo hoje, enquanto essa pancada de chuva caia, de me recordar de uma amizade real, sincera e leal e me recordar em cada detalhe. E recordando pude agradecer por ter vivido esta amizade. E reforcei minha admiração por essa chuva quando ela cai. Não aquela chuva que causa destruição mas a que vem e me traz o mesmo sorriso que que aquela menina de galochas bacanas me trazia quando chegava a igreja a cada Sábado.

Deus sabe de todas as coisas. O problema é que eu não. E em minha ignorância, choro por sua falta. Ainda que seja um choro interno, eu choro.

É isso.

Ouvindo: Aaron & Geoffrey After The Rain

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Hoje Eu Ouvi Tereza. Hoje Eu Ouvi Beatriz.

 

Hoje eu ouvi Tereza. Hoje eu ouvi Beatriz. E ai mas nada importou, nada mais me entristeceu ou me chateou. Minha alma ficou em paz. Fui possuído de uma aleria genuína, de um sentimento bom, como se a chuva que caiu persistentemente ao longo da tarde estivesse lavando minha alma. E então, os problemas se foram, as durezas da vida se suavizaram, as pedras do caminho foram roladas para o lado e eu pude andar sem tropeçar. A vida foi como ela sempre deve ser e nos momentos em que estava ouvindo, Tereza, que estava ouvindo Beatriz, que estava ouvindo Madredeus e seus violinos e violas e pianos e baixos acústicos e tudo mais que Madredeus contém, se foi a dor de cabeça.

Há tempos não ouvia Tereza, não ouvia Beatriz.  Me refugiar no rock e sua sonoridade brutal para me valer ante a aridez dos últimos dias. me parece a escolha mais óbvia e menos dolorida. Porém no meio para o fim da tarde, Oxalá, canção dos Madredeus tão importante em minha vida começou a tocar em minha cabeça. E ai ela tocou nos meus fones, na voz de Tereza. E Tereza, apenas ela, me faz gostar de uma menção ao Carnaval e me faz crer que tudo pode correr menos mal. Em seguida, Tereza, qual uma Princesa Léia bem mais linda que a Princesa Leia surgiu na tela cantando Labirinto Parado, um "lado B" dos Madredeus tão lindo e certamente um dos clipes com a fotografia mais bela que já vi na vida e certamente o momento em que Tereza deixa de ser apenas uma cantora excepcional para ser uma  mulher de beleza ímpar.

Logo após, ouvi Beatriz. Sim, admito que prefiro a interpretação de Beatriz para "O Pastor", talvez a canção mais conhecida dos Madredeus no Brasil. é uma interpretação especifica, de 12 anos atrás ai vivo, onde o figurino simples de Beatriz e sua aparente inespressividade (não se engane pelas aparências), faz com que a música se pontecialize pois o ouvinte mais atento irá canalizar sua atenção para a interpretação absolutamente impecável de Beatriz. Por fim, ouvi Beatriz cantando "Haja o que houver" Como pode tanto sentimento caber em tão poucos minutos? Ver ao vivo tal apresentação seria um bom dia para morrer.

De quebra, (ou de bônus), ouvi "O Sonho", esta canção se não for na voz de Tereza, não precisa ser cantada. Quanta precisão, quanto sentimento, quanto acalanto em uma única voz. Quando ela diz que "não hávia mais nada, só nós a luz e mais nada" eu digo que quando Tereza quando nada mais em volta há. Nem luz, nem nós, nem nada. Apenas a sua voz pairando, ecoando, emocionando, iluminando as reentrâncias mais escuras da minha alma. Quando Tereza canta, quanto Beatriz canta, o obscuro se ilumina a vida ganha sentido a alma se acalma a vida vale a pena. E curioso, aomenos para mim, me vem um sentimento de pertencimento.Pertencimento a uma arte tão peculiar, tão lindae que eu me orgulho de apreciar.

É isso.

Ouvindo: Madredeus

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Mano Brown Nova Jerusalem


"Mulheres cantam, em uma ciranda em pés no chão... eu reconheço minha mãe, ainda jovem..." Só eu vejo a poesia que existe nesse inicio? Me corta o coração, me faz chorar, me faz lembrar da minha própria mãe, ainda jovem, me faz reviver mina infância, me faz pensar na Nova Jerusalém... Cara que loucura! Essa batida melancólica, que reforça toda a tristeza que guardo no peito, que me faz sufocar em mim mesmo... Como pode ser isso? Ouça: 



Como menos de 4 minutos de música podem conter tanta poesia? A forma com que Mano interpreta, claramente sofrida, destituída da raiva que ele utiliza no RAP,  a voz é triste, contida, mas também curiosamente esperançosa, calma. Os backs vocals, são inacreditáveis, perfeitos, combinam com a canção, emocionam, fazem valer a pena ainda mais a audição.

Confesso que o lançamento de "Boogie Naipe" a uns anos atrás não me entusiasmou. Um álbum correto e só. Mas no dia 1/01/24, eu ouvi Nova Jerusalém. Me  chamou a atenção o título, que te dá tantas e tantas opções de interpretação e te deixa levar a música para onde você quiser levar. E eu confesso que reconheci  minha mãe ainda jovem. 

Minha mãe ainda jovem além de bela era inteligente e cheia de vida. Cruzou com meu pai que e ele a fodeu! Literalmente e figuradamente. A largou com um filho e seguiu seu caminho. Ele não vai para a Nova Jerusalém, eu suponho. Ela, vai. Nova Jerusalém é um lugar que agora eu sei, mulheres cantarão fazendo uma roda de ciranda e descalças. Apesar das ruas de ouro,  elas serão como quando eram meninas e o pó das ruas de terra vai subir, porque Deus é antes de mais nada amoroso e afetivo e memórias, ainda que não as tenhamos lá, ou melhor, as pessoas que lá estiverem não as tiverem (não tenho a menor pretensão de me imaginar lá), são importantes e essas mulheres sofridas, abandonadas, abusadas, estão lá, juntas, dançando a sua ciranda como se fossem todas jovens e sim , elas serão de fato jovens eternamente, entre elas minha mãe.

Nova Jerusalém e a visão idílica de Mano, quando ele diz que vê um pomar e um casarão, sem guerras e magoas a obliterar esta visão, me fizeram chorar, mas também ter esperança. Não por mim, mas por um lugar de paz e descanso para minha mãe que tanto lutou e tanto sofreu aqui. Eu sei que lá não entro. Sou um ser que não fui talhado para lá. Não verei um pomar e um casarão sem dores e guerras, mas sei que minha mãe estará lá e descansará. Isso me fará feliz.

Quisera eu ter o dejavi, a sensação de paz de um lugar todo azul. Obrigado por tão linda canção, Mano Brown.

É isso.

Ouvindo: Booggie Naipe